Toda vez que eu vejo os guerreiros das redes sociais bradando contra a corrupção e conclamando todos aos protestos acalorados eu preciso contar até dez para não excluir minha conta do facebook. É assustador o quanto as pessoas não possuem a consciência de que o Governo que temos nada mais é que um reflexo do nosso comportamento como cidadão. Qual a lógica de tanta indignação se a gente sente maior orgulho de passar a perna nos outros?

O Brasil é um país perfeito para roubar e ser roubado e essa é a nossa rotina diária. O gato da TV a cabo, a furada de fila, o contato daquele seu parente que trabalha na polícia para te livrar de uma blitz, seu declarado turismo no Ciências sem Fronteiras, a falta de educação no trânsito, a chamada que seu colega assina por você na aula, a doação de sangue para ganhar folga no trabalho, a fuga depois de esbarrar em um carro estacionado, a carteirinha falsificada para pagar meia, as manobras que você faz pra não pagar o imposto de renda. Sabe como chamam essas manobras que você faz para se livrar do leão? Pedaladas fiscais, idênticas às da Dilma.

A única diferença entre você e os nossos governantes é que eles tiveram mais competência para estar no poder. O caráter é o mesmo. Porque a questão não é de personalidade é cultural.

Ninguém mais sabe quando isso começou. Se o brasileiro se tornou desonesto por causa da corrupção institucionalizada ou o contrário. A verdade é que a honestidade, conceitualmente, não existe. Existe o preço que cada um tem para se corromper. Talvez o seu seja estar completamente sem dinheiro, passando fome, com uma criança em casa ou pode ser também a simples vontade de ter um barco mais luxuoso. Todo ser humano tem o seu preço.

O que você faria se caíssem na sua conta 2 milhões de reais da noite pro dia? Devolveria pro banco? “Ah, eu não. O banco já não tem mais onde colocar tanto dinheiro.”

Essa é a mesma lógica do pivete que te assalta. Você tem um carro bacana e roupas chiques. Na concepção dele, você já está cheio de dinheiro e é normal ele pegar um pouquinho pra ele também.

Brasileiro adora reclamar, apontar o dedo e incrivelmente, consegue se colocar dentro de uma bolha de ilusão onde ele não tem o menor sentimento de culpa sobre a desgraça que se assola sobre esse país. O problema do Brasil somos nós que sempre colocamos o individual à frente do coletivo. Esqueça o PT, o PSDB, o mensalão, a Petrobras, os altos impostos. Você já parou pra pensar que o preço caríssimo pra eventos de entretenimento são também porque quase todo mundo falsifica as carteirinhas de estudante? Você que acredita que achado não é roubado, que é destreza cortar os carros pelo acostamento e sair lá na frente, sim é você mesmo o câncer desse país. Se um dia você for eleito a um cargo político e tiver a oportunidade de desviar rios de dinheiros você vai fazer, vai se orgulhar disso e, em algum momento, vai achar normal. Tão normal quanto receber uma conta errada para menos no restaurante e ficar em silêncio.

Se não temos mais condições de mudar o comportamento, tenhamos pelo menos a dignidade de ensinar nossos filhos a enxergar as coisas de uma outra forma. O Brasil que criticamos é de nossa autoria. Tenha certeza que os países “evoluídos” que a gente tanto admira e elogia nas viagens internacionais não querem receber cidadãos como nós.

Jogue no lixo o sonho de morar fora e lembre-se que nenhum lugar é tão perfeito para você quanto o Brasil.

Observação: o autor deste texto também se identifica com alguns dos exemplos citados.

Leonardo Penna